Resenha: Mulheres, Raça e Classe, de Angela Davis
Angela Davis é a minha resposta para aquela pergunta “se você pudesse convidar qualquer pessoa famosa viva para tomar um café e conversar, quem você escolheria?”. A postagem deixa meus motivos bastante evidentes.
Na minha resenha de “Mulheres, Raça e Classe”, de Angela Davis, abordaremos tópicos como:
- sinopse e minhas impressões sobre o livro;
- vida e obra de Angelas Davis;
- feminismo;
- luta racial;
- preconceitos de classe.
Sinopse de “Mulheres, Raça e Classe” e minhas impressões
Em “Mulheres, Raça e Classe”, Angela Davis discorre sobre a história do feminismo negro norte-americano, a luta abolicionista nos Estados Unidose e as demais movimentações políticas das décadas de 60 e 70. São criados panoramas interligando pontos como a escravidão, questões de gênero, de cor e de dinheiro.
Esse é o tipo de leitura que não sei se começo falando do livro ou da própria autora. Aliás, nem me lembro se comprei o livro porque já conhecia a autora ou se descobri quem é a autora porque conheci o livro.
Essa é a segunda vez que começo a lê-lo. Da primeira vez desisti não porque não gostei, mas porque o primeiro capítulo me assombrou e tive medo de não conseguir absorver tudo o que a autora escreveu. Sabe aquela impressão de que no futuro estarei mais sábia e aproveitarei melhor o conteúdo? Pois bem.
De fato, quando peguei para ler pela segunda vez, eu havia adquirido mais bagagem intelectual para acompanhar e compreender de forma mais aprofundada as análises propostas pela autora. Porém, os capítulos continuaram me assombrando pela crueza da realidade. Aqui eu preciso fazer uma pausa para introduzir a autoridade da escritora antes de prosseguirmos com o livro.
Quem é Angela Davis?
Angela Davis é uma professora e filósofa estadunidense conhecida por sua luta pelo direito das mulheres e contra a discriminação racial. Foi integrante de organizações políticas como Black Power e Panteras Negras.
Em 1970, aliada aos Panteras, foi acusada de conspiração, sequestro e homicídio em uma ação que tentava liberar três militantes e chegou a estar na lista dos dez fugitivos mais procurados do FBI até ser presa. Houveram manifestações pela sua liberdade até ela ser inocentada de todas as acusações.
Eu me recordo de assistir documentários e ler publicações relacionadas à sua vida e especialmente a esse episódio e como ela sustentava o black power na cabeça quando estava sendo julgada mesmo ele não sendo bem aceito na época.
Então, como não ler Angela Davis? Ainda assim, como estar preparada para o que ela escreveu? Como enfrentar os relatos difíceis de “Mulheres, Raça e Classe”, livro publicado em 1981, e tão cruelmente atual?
Feminismo negro, escravidão, luta de raça e classe
Mulheres, Raça e Classe aborda questões relacionadas às condições das mulheres, da população negra e da classe trabalhadora ao longo da história até o momento da publicação. O enfoque é nos Estados Unidos, mas, talvez não muito surpreendentemente, há muitos pontos em comum com a história brasileira.
Já no primeiro capítulo, a escravidão é relembrada de maneira esmagadora, com relatos torturantes que não estão nem perto de conseguir exprimir o horror sentido pela população escravizada da época.
É importante a explanação de como as mulheres escravizadas trabalhavam em igualdade com os homens nos campos, da importância que elas tinham dentro da comunidade, de como suas torturas eram ainda mais cruéis, somando-se ao açoite os crimes sexuais como o estupro.
Outros cenários são expostos como a luta das mulheres pelo direito ao voto. Em alguns núcleos aliaram-se à luta anti-escravista; em outros, preferiam dar às costas às suas irmãs de cor para não comprometer o movimento sufragista. Mesmo as mulheres trabalhadoras brancas eram esquecidas muitas vezes pelas de classe mais alta.
Há capítulos relatando episódios de linchamento da população negra após o fim da escravidão, o mito do estuprador negro, a promiscuidade da mulher negra e outras barbáries que ainda estão estruturadas no pensamento social. Muitas vezes não conhecemos como surgiram e o livro nos fornece dados sobre isso.
São apresentadas muitas personalidades envolvidas nessas lutas que em sua grande maioria não são conhecidas hoje. A história apaga, ou ao menos tenta diminuir, a participação dessas pessoas.
Apesar de ser uma travessia difícil, muito mais pela realidade do que pela escrita, é uma leitura necessária. Ainda que você já tenha conhecimento sobre alguns assuntos narrados, acredito que precisamos sempre lembrar e manter a história viva como forma de vigilância.
Os detalhes de como os preconceitos funcionam são sórdidos e necessários. Acredito que não basta termos a mensagem de “preconceito é ruim”, “nazismo é errado” etc. Acabam virando termos mais genéricos e costumeiros no dia a dia. É fundamental consumir estudos, narrativas e obras que aprofundam esses termos para entendermos como operam e o motivo de serem crimes.
Digo isso porque estudei alguns temas presentes no livro tanto no ensino médio público quanto no ensino superior privado. Já conhecia alguns termos. Mesmo assim, é um assombro diferente toda vez que precisamos encarar os detalhes. Mais explicativo do que dizer que havia tortura é dizer como eram essas torturas e oferecer aprofundamentos sobre o tema.
O livro é um clássico universal porque nos apresenta a história que nos trouxe até o momento presente em que ainda há a recorrência de discursos preconceituosos, seja contra a mulher, contra os negros ou contra os mais pobres. Angela Davis se faz necessária.
Você já leu algum livro da Angela Davis? Compartilhe com a gente seus conhecimentos sobre o livro, a autora ou o tema. Sua contribuição enriquece a temática social.
Te vejo no próximo post!
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