Resenha: Olhos d'água, de Conceição Evaristo
Eu me recordo muito bem do dia em que ouvi o conto “Olhos d’Água”, de Conceição Evaristo, ser narrado por uma booktuber. Foi inevitável que os meus também se inundassem. Desde então, eu sabia que precisava comprar esse livro.
Hoje eu o encontro facilmente vendido mesmo pela Amazon, mas na época poucas lojas o vendiam e o frete era bastante caro. Demorou um pouco para que eu conseguisse comprá-lo. Isso me chamou a atenção porque, sendo uma das maiores escritoras brasileiras vivas, sua obra deveria ser melhor difundida.
Então, nessa postagem, compartilho minhas observações sobre essa leitura impactante. Ao longo do texto, comentarei:
- a sinopse e as minhas impressões sobre a narrativa;
- a vida da autora;
- a representação das mulheres na obra;
- a violência e a desigualdade social.
Quem é Conceição Evaristo?
A mineira Maria da Conceição Evaristo de Brito é linguista e escritora, tendo composto poesias, romances, contos e ensaios por décadas. É uma das maiores escritoras brasileiras e possui bastante representatividade por ser uma das escritoras negras mais conhecidas.
Nascida em 1946, e sendo uma mulher negra, é importante destacar sua formação como em Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1990. Ela fez carreira como professora em diversas instituições de renome.
Seu primeiro romance, Ponciá Vicêncio, foi publicado em 2003. Nele, Conceição ilustrou temas discriminação racial, de gênero e de classe. Essas preocupações a acompanham por toda a sua vida e obra. Também estão em Olhos d’Água.
Olhos d´Água, de Conceição Evaristo
O livro é composto por contos focalizando a população afro-brasileira em relação à pobreza e à violência urbana que sofrem. Portanto, trata de assuntos cotidianos a moradores periféricos, assuntos pesados e difíceis de confrontar.
A leitura para mim foi fácil pelo fato da escrita de Conceição ser limpa, direta, sem rodeios. Porém, é bastante difícil pelas imagens que ela evoca, pelas relações que ela cria entre as situações e por passagens poéticas que adquirem ainda mais peso nas palavras.
Durante a leitura de todos os contos, eu sempre terminava com um gosto amargo na boca. Era algo nauseante. Apesar de serem denominados contos, portanto ficção, poderiam ser relatos reais. Existe essa forte verossimilhança que torna tudo mais difícil ainda de digerir.
Existem alguns pontos em especiais que quero destacar:
Presença muito forte de mulheres
A mulher é sempre protagonista de seus contos. É um ângulo interessante, uma vez que, quando se fala sobre questões envolvendo tráfico, por exemplo, é registrado o lado do homem. Mas ele não tem mulheres na família? Não existem mulheres na periferia?
O protagonismo que desejávamos para essas mulheres é outro. Mas, como é tudo que elas podem ter nessas histórias, Conceição Evaristo as preenche de complexidade. São mães, filhas, avós que têm suas existências e dilemas explorados.
Fala muito da relação de vida e morte
É inevitável perceber a associação desses dois pólos nas histórias. Ela poderia falar apenas de um deles em um conto, mas então não seria possível evidenciar a vulnerabilidade e a complexidade das relações humanas.
Muitas vezes é possível pressentir o rumo da narrativa e, muito comumente, o personagem não nos apela a ter pena dele ou coisa que o valha. Afinal, não há muito sentimentalismo nessa obra. Ainda assim, quando o golpe se anuncia, é pesado.
O conto Olhos d’Água
O conto Olhos d'água, que mencionei no início do texto, é esplêndido. Sou incapaz de ouvi-lo ou lê-lo sem chorar. A evocação de suas palavras afloram minha emoção mesmo agora enquanto escrevo. Em primeiro lugar, porque é muito bem produzido. Em segundo lugar, porque é real demais.
Não quero falar muito sobre esse conto, porque ele merece ser conhecido integralmente sem menções que embassem seu impacto. Ser mãe, ser filha, ou ser mulher são imagens impactantes. Ser negra nessas condições é atingir o extremo. O preconceito e as dificuldades são muito maiores.
Conceição Evaristo merece mais reconhecimento. Já pleiteou uma vaga para a Academia Brasileira de Letras e perdeu para o cineasta Cacá Diegues, recebendo apenas um voto. Que tal começar a leitura por esse livro?
Compartilhe comigo suas impressões nos comentários. Te vejo na próxima postagem!
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