Mulheres na literatura: a representativadade das mulheres como personagem e como escritoras

Quantos livros escritos por mulheres você já leu? Quantos tem em sua casa? Nos últimos anos a pauta sobre a participação da mulher em diversos âmbitos sociais tem sido amplamente debatida. Isso pode ter feito com que conhecêssemos mais autoras. Mas quantas delas líamos na escola, na adolescência?


Mulheres na literatura

Como as mulheres eram retratadas na literatura? E como escreviam?

Virginia Woolf dizia que a mulher precisa de um teto todo seu para escrever. Me recordo de ler seu livro, em 2017, como uma estudante de jornalismo que frequentava aulas de professoras extremamente competentes. O conteúdo delas, tão atualizado, concordava o tempo todo com a escritora inglesa do século passado.

Na aula de sociologia, ouvi como as mulheres eram tratadas e interpretadas na época. A roupa apertada e os dias quentes eram a combinação perfeita para que elas desmaiassem ou sentissem qualquer mal estar, especialmente após ouvir notícias ruins. Porém, não atribuíam isso à falta de oxigenação, mas à fragilidade da mulher. Podemos ler passagens semelhantes em livros antigos escritos por homens.

Então a mulher, enquanto personagem nessas épocas, é fraca, submissa, temperamental e sentimental, em grande parte. Raramente era descrita com profundidade, já que seus atributos eram rasos sob a ótica dos homens.

E qual é o perfil da escritora da época? Hoje, sabemos quem elas foram. Mas, por muito tempo, elas eram anônimas, como bem pontua Woolf no mesmo livro. Quando assinavam, escolhiam nomes masculinos para serem aceitas. É o caso de Emily Brontë, que publicou o clássico “O Morro dos Ventos Uivantes”, em 1874, como Ellis Bell. Provando que não é apenas coisa de época, J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter, foi aconselhada a abreviar o nome para disfarçar que se tratava de uma mulher.


A falta de estudos e a sociedade como barreira para as mulheres

O ponto crucial de Um Teto Todo Seu, de Wolf, era sobre a necessidade da mulher ter o mínimo de independência para estudar, ter seu próprio canto e certa quantia de dinheiro para se manter e preservar a sua própria arte. O livro reúne discursos proferidos pela autora em palestras em faculdades no ano de 1928. Os ouvintes possuíam instrução, mas muitas mulheres não conseguiram se alfabetizar, seja nessa época ou depois.

Reduzindo o cenário geograficamente para o Brasil, foi somente a partir de 1827 que as mulheres conquistaram o direito à educação. Devido a questões sociais, as mais pobres e as negras não conseguiram exercer esse direito.

Às mulheres fica relegado o papel de cuidadora do lar. Como os homens podiam trabalhar e eram incentivados a estudar, dominaram os espaços livremente. Aprendemos muito mais sobre eles do que sobre elas na escola. Quando ouvimos nomes femininos, são mais recentes, como Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector e Cecília Meirelles.

Elas tiveram a oportunidade de estudar e aproveitaram sabiamente. Porém, não é o caso de Maria Firmina dos Reis, que foi a primeira romancista mulher brasileira, publicando Úrsula em 1859. Ela era negra, pobre e esquecida.

Sempre existiram mulheres escrevendo. Mas foi em 1932 que Nísia Floresta Brasileira Augusta publicou seus textos em jornais e se tornou uma das primeiras escritoras a conseguir tal feito.


Qual a representatividade da mulher na literatura atual?

Segundo o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, coletivo de pesquisadores vinculados à Universidade de Brasília, os homens foram os responsáveis por mais de 70% das publicações em grandes editoras brasileiras entre 1965 e 2014.

De acordo com a professora Regina Dalcastagnè, em  A personagem do romance brasileiro contemporâneo: 1990-2004, analisando 258 romances do período foi possível verificar que:

  • os personagens são, em sua maioria, brancas, do sexo masculino e das classes médias;
  • sobre os demais grupos, imperam estereótipos: as mulheres brancas são donas de casa, as negras são empregadas domésticas ou prostitutas, os homens negros são bandidos;
  • eles reproduzem os padrões de exclusão da sociedade brasileira.


Mesmo as mulheres que publicam no Brasil possuem um padrão de vida que as permite a isso. As pobres, negras e indígenas possuem ainda mais dificuldade em romper o silêncio.

Ainda assim, hoje conhecemos os nomes de autoras como Jane Austen e as irmãs Brontë. Hoje, desenterramos livros de Maria Firmina dos Reis, Nísia Floresta e Júlia Lopes de Almeida. Escritoras como Annie Ernaux ganham prêmios literários e também são reconhecidas como Heloisa Buarque de Hollanda, que acaba de assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.


Agora eu quero saber de você. Qual impressão você tem sobre as mulheres na literatura, tanto como personagem quanto como autora? Compartilhe com a gente nos comentários e não se esqueça de mencionar quais são suas escritoras e seus livros preferidos. Vamos adorar saber!


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