Resenha: Antes do Baile Verde, de Lygia Fagundes Telles
Lygia Fagundes Telles é provavelmente minha autora preferida desde o ensino médio. Me recordo do dia que recebi o livro “Antes do Baile Verde” no kit enviado pelo governo aos alunos.
Já havia recebido outros livros que amara, mas a leitura desse foi diferente. A maneira que a escrita de Lygia se comunica comigo, e pude confirmar com as leituras seguintes de sua obra, é profunda.
Talvez por isso ele me acompanhou desde então, tendo eu consultado algumas páginas aqui e ali vez ou outra, até agora relê-lo novamente do início ao fim, já com a sensação de que aguardo a próxima experiência.
Nessa postagem, mencionarei sobre:
- a vida da autora;
- a sinopse e minhas impressões sobre a narrativa;
Bom, então venha comigo para saber mais sobre o que achei dessa obra.
Sobre “Antes do Baile Verde”
Antes do Baile Verde é um conjunto de dezoito contos publicado em 1970. Possui temas variados como a loucura, relações familiares, conflitos internos dentro da própria pessoa.
A leitura não é difícil ainda que a interpretação precise ser profunda. Concordo com Drummond quando ele diz algo como que Lygia entrega história para quem deseja apenas lê-la e profundidade para quem queira ir além e mergulhar.
Sobre Lygia Fagundes Telles
Lygia Fagundes Telles é conhecida como “a dama da literatura brasileira” e foi uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX. Nascida em São Paulo em 1918, foi uma das únicas mulheres em sua classe de Direito na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. A autora sempre esteve à frente do seu tempo.
Lygia escreveu romances, como “Ciranda de Pedra” e “As Meninas”, mas essencialmente contos, como é o caso do livro da resenha de hoje. Situada na geração modernista de 1945, possui características comuns da época, como o fluxo de consciência, mas é possível notar as influências de Edgar Allan Poe em suas obras, especialmente em “Venha Ver o Pôr-do-sol”.
A escritora morreu como uma imortal da Academia Brasileira de Letras em 2022 aos 103 anos de idade. Mas sua forma de narrar mostrando os fatos em vez de simplesmente contá-los continuará fascinando antigos e novos leitores.
Impressões sobre os contos
Já falamos sobre a autora e as características notáveis em sua obra. “Antes do Baile Verde” segue esses traços. Eu sinto sua obra como um mistério flagrante ou um flagrante mistério. Às vezes, presenciamos um flagrante que se torna um mistério para a gente. Outras vezes um mistério se revela diante dos nossos olhos flagrantes.
Nos contos presentes no livro, a autora geralmente apresenta um ambiente que aparenta estar tudo em ordem e, sem que o leitor se dê conta, envereda por caminhos que mostram a insatisfação do personagem, o desequilíbrio das relações, etc. As sensações causadas pela descrição de objetos e de ações nos inserem na cena.
As narrativas se desenrolam sem pressa. Como assistimos a cenas e não necessariamente à história inteira, o final não é conclusivo. Se o marido acha que a esposa vai a um evento traí-lo e nos confidencia como pensa que isso será feito, o conto não termina dizendo se ele estava certo. A narração, os pensamentos, as ideias eram dele. Portanto, terminamos no suspense assim como ele.
Para mim essa é a magia de Lygia. Chegar na cena em que não somos capazes de alcançar, examinar com seus olhos ansiosos ainda que controlados, nos reportar os gestos, as cores, lançar mão de ferramentas como a lupa mesmo no canto mais escondido da sala ou do pensamento para que possamos acessá-los.
Lygia Fagundes Telles é minha escritora favorita e escrever sobre ela me traz um misto de felicidade pela sua presença e uma tristeza pela sua ausência. Sempre tive o sonho de encontrá-la e pedir um autógrafo. Não tenho vergonha em assumir o quanto fiquei mal com a notícia de sua partida.
Mas e você? Já leu “Antes do Baile Verde” ou outro livro da autora? Compartilhe comigo nos comentários suas impressões sobre a obra e sobre a minha resenha. Ficarei contente de falar um pouco mais sobre essa mulher genial.
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